CRIANÇAS AGITADAS…NUMA SOCIEDADE HIPERATIVA.
Publicado por Júlia Eugênia Gonçalves em 02/08/2016
Compartilho com vocês este assunto que me parece
relevante para que possamos compreender o que tem acontecido com nossas
crianças, atualmente.
Eu sou reativa a tudo que é modismo e ultimamente,
na área da Educação só se tem falado sobre autismo, dislexia e transtorno de
atenção. Entretanto, superei a barreira da reatividade para tratar de um destes
temas neste post: O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), a
pedido de alguns leitores que me acompanham e que se encontram preocupados com
seus filhos, em função de queixas da escola relacionadas com agitação e
hiperatividade.
A primeira coisa que me parece fundamental
esclarecer é que as crianças pequenas, até 3 anos, não têm ainda a capacidade
de focar a atenção durante mais de 5 ou 10 minutos em algo que lhe interesse
bastante. São agitadas e desatentas pela própria natureza, visto que estão
ainda em processo de desenvolvimento. Outro aspecto relevante a se considerar é
o mundo em que vivemos, repleto de estímulos visuais, auditivos e cenestésicos,
o que contribui para a agitação não apenas dos pequenos, mas de todos que nele
vivemos e somos sujeitos até a uma nova síndrome: A do pensamento acelerado
(outro modismo)?
O que me causa espécie é o número exagerado de
diagnósticos de TDAH e as consequentes medicações, na maioria de meninos em
torno de 5, 6 anos, quando a escola começa a exigir (ao meu ver precocemente)
mais tempo de permanência na sala de aula, atividades formais num tipo de
escola que deveria se pautar pela informalidade. Estas demandas escolares ou
crises em famílias disfuncionais, segundo as observações técnicas, são fatores
desencadeantes do tal TDAH.
É preciso, portanto, que se estabeleçam alguns
princípios em torno desta situação, os quais listei abaixo para facilitar a
leitura:
· O cérebro humano é o único
órgão que não nasce pronto. Precisa crescer e amadurecer para exercer todas as
funções cognitivas que lhe são próprias;
· As crianças que apresentam
de fato o transtorno de déficit de atenção com ou sem hiperatividade são
aquelas que crescem em idade, mas não têm o amadurecimento cerebral na mesma
proporção, ou seja, sofrem, de imaturidade neurológica;
· Somente médicos
(neurologistas ou psiquiatras) são competentes para o diagnóstico, que é feito
a partir da análise do quadro clínico, a partir de 6, 7 anos. Portanto, antes
desta idade, deve-se considerar o desenvolvimento natural da criança e esperar
seu amadurecimento;
· O tratamento, quando
necessário, é composto por medicação prescrita pelo médico, já que pode ter
efeitos colaterais, e também por terapia, pois o comportamento da criança já se
encontra alterado, ela foi rotulada como impertinente e agitada e necessita de
suporte durante psicológico ou psicopedagógico.
Para
concluir, chamo a atenção dos pais para o fato de que criança não é adulto em
miniatura e nem “projeto para futuro”. Pelo contrário, criança é a expressão de
um presente que precisa ser atendido em suas necessidades de afeto.
Chamo também
a atenção das escolas para o fato de que o seu objetivo não é preparar as
crianças “para” a vida, como se esta fosse algo que só acontece no futuro e,
para isso, pressionam os pequenos em estruturas altamente competitivas para que
sejam, ” adultos de sucesso”.
A escola de
hoje tem tantas exigências que não sei até onde as crianças vão aguentar. Por
isso, muitas delas, sadiamente, se agitam e expressam sob a forma da hiperatividade,
um grito de socorro que os adultos e profissionais, em sua indiferença e
arrogância, teimam em rotular como um distúrbio, um problema, sem olhar para o
próprio umbigo e se perguntar em que medida estão envolvidos nesta situação.
Será que o
que chamamos de TDAH não é apenas um sintoma de uma sociedade hiperativa que as
crianças, em sua pureza, teimam em denunciar?
Fonte: http://www.edupp.com.br/2016/08/criancas-agitadas-numa-sociedade-hiperativa/
Assinar:
Postagens (Atom)